20120515

ESQUELETO

"Se você não se pode livrar do esqueleto que está no seu armário, é melhor que o ensine a dançar." - George Bernard Shaw

O Bonjardim foi construído com os materiais e técnicas mais avançadas possíveis para o ano de 1910. A sua estrutura e materiais são na sua essência a génese da construção que se efectuava nos finais do século XIX início do século XX na cidade do Porto.

O granito, recurso natural fundamental na área da construção, e tradicionalmente usado na zona Norte do País por questões geográficas e pelo seu óptimo comportamento como material estruturante na construção devido à sua grande densidade e boa resistência mecânica à compressão, ao desgaste, à acção do fogo e à capacidade de compatibilização com outros materiais, foi muito usado no centro da cidade do Porto, e o Bonjardim não é excepção.
As suas paredes periféricas, as exteriores e as meeiras, foram executadas em alvenaria de grandes blocos granito, em toda a altura da construção, para posteriormente serem revestidas pelo exterior com azulejo e pelo interior com estuque e pintura.

O Porto destaca-se pela grande variedade de cores das suas fachadas, provocada pelo uso do azulejo que surgiu com a industrialização e marcou para sempre a imagem da cidade. O Bonjardim tem na sua fachada principal os clássicos azulejos biselados de 14 x 7cm num lindo e translúcido verde d’água. Os azulejos existentes serão substituídos por azulejos novos de 15 x 7.5cm  biselados e vidrados com afinação da cor para aproximação da cor original.




















Constou-nos que a fachada tardoz era composta por varandas, e que a coluna onde se localizam todas as instalações sanitárias ficava com acesso pelo exterior em todos os pisos, ou seja pela varanda, por uma questão de higiene e salubridade. Anos depois todas as varandas foram fechadas e a solução construtiva optada pela generalidade da população era a colocação de janelas em guilhotina acima da altura do corrimão e o fecho da restante fachada com paredes capeadas de chapa ondulada pelo exterior e taipa de fasquio pelo interior.
Essa imagem da fachada tardoz, apesar acharmos que se trata de uma adaptação, agradou-nos, e mantivemos o mesmo desenho quando partimos para a sua reconstrução, pois a fachada tardoz apresentou-se nos primeiros dias em estado de ruina e teve de ser integralmente construída.




















A estrutura interior da construção é toda executada em madeira, no que se refere às lajes. Devido ao formato tipificado da implantação da casa (17.50 m de comprimento x 6.00 m de largura), as lajes são compostas por vigamento de secção rectangular em madeira de Riga Velha que atravessam transversalmente toda a construção (menor vão) e que entram para o interior das paredes de granito de meação, de forma a distribuir as cargas uniformente ao longo de toda a parede.
Nessas traves assenta superiormente (pavimento) soalho de madeira maciça de pinho que chegam a apresentar 8.00m de comprimento e inferiormente (tectos) em tabique fasquio com estuque pintado.















A cobertura é composta por asnas de madeira de Riga Velha, que é uma madeira muito rija e resistente e que no caso do Bonjardim, devido à inclinação da mesma (43º) permite tornar o sótão um espaço habitavel. Essas asnas que descarregam directamente sobre as paredes periféricas de granito, são a estrutura para a colocação de barrotes e ripado de madeira para assentamento da telha cerâmica Marselha.
A nossa cobertura, conforme descrito no post “4 ÁGUAS” apresenta visualmente a estrutura original no entanto foi potenciada com novos materiais que aumentaram a sua capacidade térmica e de impermeabilização.




















As paredes interiores são em taipa de fasquio ou tabique dependendo se são superfícies estruturais ou não estruturais. A taipa de fasquio, técnica muito usada na época da construção, consiste na execução de uma estrutura composta por tábuas de madeira colocadas na vertical e sobre as quais se prega um segundo plano de tábuas na diagonal, travadas em ambas as faces com um ripado de madeira fino, o fasquiado, com cerca de 2cm de largura, instalado na horizontal, que tem como função contribuir para o travamento da parede e agarrar o reboco com cerca de 1.5cm de espessura, composto por areia fina, cal hidráulica e/ou cal aérea, e acabamento estanhado.
Todas as paredes interiores do piso 1 e 2 serão restauradas com métodos que respeitem a construção existente, serão eliminadas as fissuras do tempo e uniformizadas com argamassa de gesso à base de cal. O acabamento final será tal como o original, estanhado para a superfície ficar num liso aveludado.














Voltando ao fasquio, durante a recuperação do Bonjardim, foi possível a sua visualização nalgumas superfícies, principalmente na cobertura, uma vez que conforme referido, estamos a tentar manter intactas todas as paredes e tectos.
Aprendi com o Flávio, o responsável de obra, já durante o processo de reconstrução da casa, que o fasquiado pode apresentar vários estados de evolução, dependendo da época em que foi aplicado. Inicialmente apresentava uma secção rectangular, evoluindo para a secção trapezoidal com o objectivo de se tornar mais eficiente a segurar as argamassas voltando posteriormente à secção rectangular quando a sua produção foi industrializada.
Bonjardim enquadra-se na época em que o fasquio era produzido artesanalmente, e apresenta a secção trapezoidal, a face mais larga é colocada do lado de fora para melhor cumprir o seu papel de garantir uma melhor aderência do reboco.


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