20120129

HABITAR O PORTO

“As casas são construídas para que se viva nelas, não para serem olhadas” Francis Bacon – Filosofo, Ensaísta e Político

Na 2ª metade do último século, a cidade Invicta caracterizou-se por uma perda gradual de população, sobretudo da população jovem, dada a evasão habitacional para outras cidades periféricas. O centro da cidade (com excepção da zona da Ribeira) tornou-se meramente num local de prestação de serviço, desnudada de população residente, com uma grande fatia do seu parque habitacional ao abandono.
 
Os motivos foram vários, desde a atracção das novas cidades e melhoria das vias de comunicação até à aversão em habitar em imóveis antigos/necessitar de obras e com pouca vizinhança. Por um conjunto de razões (económicas, planeamento, legais) os proprietários de edifícios Portuenses não foram motivados a incorrer em custos de recuperação dos mesmos.
Tanta casa sem gente … tanta gente sem casa! Graffiti na R. do Bonjardim

Apesar de nenhum de nós os dois ser “tripeiro de gema” – um de terras de Torga e outro de D. Dinis, a verdade é que nos conhecemos no Porto, crescemos com o Porto, habitamos o Porto, e mais importante “vivemos” o Porto! Possivelmente esse estado de “não-naturalidade” dá-nos uma visão mais consciente e distanciada do fenómeno de desertificação da cidade.

Viver na cidade do Porto para além de um privilégio habitacional contém em certa parte uma inerente obrigação cultural. Segundo me fui apercebendo, em qualquer cidade plena de história, a dimensão arquitectónica e residencial são capítulos essenciais na evolução económica e social (aprendi isso com a Patrícia nas nossas viagens).

Dessa forma, desde há algum tempo surgiu em nós uma vontade (numa primeira fase inconsciente) de habitar um sítio “out-of-the-square-box” – descrição arrebatada a Max Tippmann! Assim, habitar o Porto para nós sempre foi significado de ocupar um espaço no coração da cidade, morar um local que possuísse “história e alma” e que nos permitisse identificar como autênticos Portuenses!
 
“Se me perguntarem qual é o principal desafio que o Porto tem de responder, direi, sem hesitações: a reabilitação urbana. Ela é, de facto, o desígnio e a grande esperança para o relançamento da cidade no reencontro com a sua dignidade” Hélder Pacheco – Investigador