20120426

A QUEDA

"Algumas quedas servem para que nos levantemos mais felizes." - William Shakespeare

A segurança no trabalho é um tema que nunca deve ser descorado. Embora se tratando de uma reabilitação de uma casa unifamiliar os riscos iminentes estão ao virar de cada esquina… Que o diga isso por exemplo o destemido Engº Flávio que em tempos inicias de chuvadas se prontificou a tentar tapar a claraboia com um plástico preso com cordas, por causa do vento.

Numa intervenção num estilo misto de rappel/escalada/equilibrismo e patinagem, não tomando em conta todos os riscos de estabilidade das telhas, das vigas que as suportavam, dos 43º de inclinação das mesmas, e da permanente humidade conseguiu com sucesso a cobertura do telhado estancando a entrada das chuvas que deterioravam os pisos inferiores e as vigas destapadas. Algo que ninguém mais se atreveu a pensar fazer, nem mesmo os proprietários da obra que tinham um perfeito alibi (o suporte de mais uns kilitos nos seu lombares…)

Passada esta 1ª e arriscadíssima intervenção não tivemos conhecimento de mais nenhum incidente perigoso decorrido na obra. Obviamente não contamos com o 1º dia em que se restabeleceu a energia elétrica da casa…
Dr. El Gato com a sua habitual descontração atendeu os Srs. da EDP, que ligaram a luz e simplesmente bateu porta. Porém alguma picada de consciência (ou outro elemento menos racional) o fez voltar a entrar e verificar se alguma luz estaria boa, pelo que se depara com um radiador elétrico de casa-de-banho de resistência à vista com duas barras incandescente a bombar. Uma hora assim, e certamente algo teria derretido ou até mesmo ardido???

Problemas de segurança a sério, apenas aconteceram com Dr. El Gato, nas suas esporádicas visitas à obra, quando se poe em movimento com uma ligeira tendência vertiginosa para o acidente. Passo a explicar: o menino que já partiu um tornozelo sozinho, rachou uma cabeça quase a meio, entrou em voo por uma porta de vidro, é um elemento que apenas pela sua presença é merecedora de mil cuidados e quiçá de uma força de segurança própria com sistemas de air-bags.

Se a todas estas condicionantes, o munirmos com uma máquina fotográfica que lhe tapa quase todo o tempo a visão de um dos olhos, as duas mãos, e lhe faz elevar o angulo de visão para +30º direção céu, é razão para levar uma camara de filmar com visualizações garantidas no Youtube. Foi isso que aconteceu, num certo Domingo à tarde, perto da entrada do logradouro, quando Dr. El Gato emocionado por um qualquer pormenor fotográfico (possivelmente uma cagadela de pombo em forma de coração), dá dois passos à caranguejo e de repente deixa de sentir chão debaixo das solas.

Diz quem viu, que pela sua cara esbranquiçada e com o vocal aberto parecia um qualquer salto invertido de bungee-jumpie onde por breves frações de segundo Dr. El Gato não sabia quando ia parar. Passados 80 cm de profundidade, os pezinhos 43 aterraram em confortável caixa de fossa que obviamente estava lá como armadilha.

Diz quem viu, que não viu mais nada pois os primeiros risos humedeceram a visão e garantem que Dr. El Gato não sofreu ferimentos aparentes (que quisesse mostrar) e que aparentava boa disposição tentando apagar que tal incidente tinha ocorrido…

20120424

MOSAICOS HIDRÁULICOS II

… o tempo passou e pelas nossas contas os nossos 280 mosaicos hidráulicos estrela e os 30 mosaicos hidráulicos pretos lisos já deveriam de estar prontos!

Beringela decide telefonar pela 4ª vez ao Sr. Zagalo na esperança de ouvir essa confirmação, mas acabou por ser confrontada com a seguinte pergunta,
“… quais as cores que tinha escolhido para os mosaicos?..., é que tinha apontado a lápis no mosaico que trouxe mas apagou-se quando foi levado para a oficina!”

… a entrega dos mesmos ficou adiada por mais uma semana uma vez que seria a partir daquele telefonema que a sua produção iria ter início.

… a nossa vida decorreu com alguma normalidade depois desse pequeno percalço, até que um radioso dia, o Sr. Mestre Zagalo anuncia que os tão esperados mosaicos hidráulicos estão finalmente ao sol e que no próximo sábado já poderíamos viajar até Estremoz na carrinha de Dr. El Gato para carregar os prometidos 500kg de mosaicos, sem antes ouvirmos os já habituais conselhos telefónicos do Sr. Lúcio…
“… conduzam com cuidadinho, que a viagem é longa e a estrada está perigosa!...”

Assim foi, Beringela e Dr. el Gato fizeram-se à estrada no dia 31 de Março, ainda com o cansaço de terem assistido há poucas horas atrás ao último concerto da banda ZEN na cidade de Guimarães, e tolhidos de medo que aquele esforço da viagem resultasse na visualização de 280 mosaicos hidráulicos estrela executados com as cores erradas, uma vez que existiam variações de tons das cores escolhidas.

Não poderiam estar mais errados, os mosaicos estavam tal e qual como tinham sido imaginados e simplesmente adoraram-nos.

Olhando para a pilha de hidráulicos que teria de ser trasladada para a carrinha, a estratégia passaria pela velha técnica das formiguinhas. Dr. El Gato passava 2 a 2 mosaicos para Beringela que por sua vez os entregava ao Sr. Lúcio que com grande mestria os colocou todos na carrinha, sempre com sua esposa ao seu lado a informá-lo que queria ir fazer o almoço.

Mal Beringela se distraiu com os diversos exemplares Pinscher que por ali circundavam e que princescamente eram tratados pela Sr.ª Zagalo (obviamente o machão foi quem recebeu mais festas, pensando que Beringela era uma matulona…), Dr. El Gato dada a sua habitual destreza colorífica começa a carregar outro pilha de mosaicos que não os correctos, até que o Mestre o surpreendeu e o alertou “alto aí, que esses são para ir para Macau”.
Todos sabemos que a carrinha de Dr. El Gato é como uma banheira com rodas, mas para ir até Macau era dar cabo do motor…

Antes de partirem para Norte, ambos avistaram dentro da oficina o molde da estrela, no meio dos 2000 moldes existentes, ainda sujo com tinta de cor …

“… a colocação dos mosaicos hidráulicos deverá cumprir com as instruções do Mestre Zagalo, passando zelosamente pelas seguintes etapas:

1 - aplicar os mosaicos hidráulicos com cimento cola sem molhar o chão (fazer esse trabalho o mais seco possível);
2 - limpar os mosaicos hidráulicos sem água (para situações mais extremas usar lixa de pedra);
3 - aplicar 2 demão de hidrofugante mate (1ª demão + esperar 20 minutos + 2ª demão). Nota: testar o hidrofugante num pedaço de mosaico para verificar se não mancha;
4 - betumar as juntas.




20120422

BONJARDIM NA MODA

Sempre sentimos que a casa n.º 953 do Bonjardim possui uma áurea especial, misturando um espectro de antigo burguês citadino com as vivências seguramente entusiásticas dos seus antepassados. Contudo, temos noção que parte destas sensações surgirão influenciados pelos sentimentos normais de qualquer proprietário, e pelo tempo que dedicamos à sua recuperação. Ficamos igualmente a duvidar se os elogios tecidos por terceiros serão também influenciados pela simples perspectiva de negócio dos construtores, ou pela amizade que nos une aos mais recentes visitantes.

Nesse processo de recuperação do edifício, especialmente no início, sempre que o telefone de obra toca (sim porque Dr. El Gato e Dª Beringela não querem misturar os contactos pessoais com os profissionais), surge uma espécie de calafrio antecipando uma qualquer má notícia sobre os trabalhos ou sobre alguma desagradável surpresa não prevista no caderno de encargos.

Há poucas semanas, aconteceu um desses telefonemas inesperados do vizinho da casa a sul (que é coordenador do espaço de jovens criadores no Portugal Fashion), pelo que Beringela colocou as mãos à cabeça pensando que o muro que nos medeia pudesse ter sofrido algum desequilíbrio acentuado! Nada disso. O vizinho, que estava actualmente a orientar uma exposição de quatro fotógrafas sobre o trabalho realizado por alguns alunos das escolas de moda do Porto, vinha sim fazer-nos um pedido pouco convencional.

Uma das fotógrafas - Liliana Mendes - necessitava de um cenário especial para as suas fotos dos trabalhos dos alunos da Modatex. Dado o conhecimento por parte do nosso vizinho da nossa casa, dos seus interiores, e da sua fase de reconstrução, referiu-nos que a fotógrafa ficou entusiasmada com tal pano de fundo e pediu-nos autorização para utilizar o interior da casa para a sua sessão. Como tal pedido não interferia com os trabalhos de obra acedemos prontamente até porque tínhamos curiosidade de conhecer o trabalho final de uma produção fotográfica de moda no interior de uma casa centenária em reconstrução…

Pelas indicações que nos deram posteriormente afinal a não interferência não foi assim tão factual. Basta tentar fazer um pequeno exercício mental, de tentar visualizar o efeito no ritmo dos trabalhos num estaleiro de obras cheio de homens na casa dos 20 aos 40, perante um conjunto de modelos femininas com vestuário que possivelmente não terão tanto tecido como a bata da senhora do mini-mercado onde normalmente vão adquirir os seus comes-bebes. Pelo menos terão uma recordação de um dia de trabalho diferente e pensar em fazer mais obras de recuperação de escolas de estilismo …

Não sofremos reclamações nesse dia de trabalho e pelos vistos a sessão fotográfica terá corrido na perfeição, e dentro em breve estariam prontas as fotos para serem expostas no Portugal Fashion. Passado umas semanas, gentilmente fomos convidados a deslocar-nos em loco à Alfândega do Porto, onde as fotografias foram expostas em formato digital (projecção).

Mesmo sabendo que as modelos e o cenário deveriam ser elementos inócuos numa exposição de criação de moda, ao visualizarmos o trabalho final projecto nos corredores do Portugal Fashion acabamos por ter consciência que a nossa sensação de áurea especial dos interiores do Bonjardim não será assim tão exagerada e pode mesmo ser adoptada por diversos opinantes, mesmo de áreas transversais.

Este pequeno episódio acabou por servir igualmente para aumentar a “auto-estima” e vivência da própria casa e sem dúvida o ego de todos os elementos intervenientes na reconstrução. Caso tenham curiosidade, sempre podem espreitar ou rever em alguns casos, o resultado da exposição:


20120404

20120403

SALÃO DE FESTAS

“Para o louco, todos os dias são de festa.” - provérbio

A cave por ventura é o “parente pobre” deste tipo de habitações, normalmente utilizada para arrecadações e arrumos, dado o seu ar mais sombrio e fresco. O mesmo acontecia com o Bonjardim 953, onde na cave imperavam pequenas divisões (ao inverso do resto da casa) recheadas com armários diversos. Chegava mesmo a existir uma pequena divisão, que pelo seu piso de alcatifa sobre soalho de madeira (ao contrário da resto da cave de cimento) dava a ideia de já ter sido utilizado como quarto, possivelmente o da empregada, ou do mal-amado da família…

As maiores limitações observadas nas opções reconstrutivas da nossa cave são sem dúvida a luminosidade (2 meias-janelas do lado da rua e duas mini janelas na porta do logradouro); a temperatura (fresquinha e um com um nico de humidade…); e a altura de pé direito (confortável, mas impeditivo do uso de camas elásticas).

Dadas estas limitações e tomando em conta que se tratava do piso com menor qualidade construtiva e com maior necessidade de intervenção (revestimentos, solo, etc.), decidimos tentar dar um pouco mais vivência ao piso -1, através de uma intervenção na sua estrutura, algo que não fizemos em mais nenhuma parte da casa.
Fizemos um 2 em 1, ou seja, mantivemos sensivelmente metade do espaço com a estrutura actual (que servirá para a lavandaria, escritório e um pouco de arrumos).
Na outra metade, a que se situa na saída para o jardim, criamos um open-space onde se pretende a fruição um espaço multiusos, ou para agrado de D. Lídia um salão de Festas. Para isso foi necessário remover uma parede de mais de 5 metros que fazia parte das mencionadas divisões que foram suprimidas. Não se tratando de uma parede estrutural, contudo dado a sua contribuição histórica consideramos ser melhor a sua substituição por uma viga de ferro que criará a estabilidade necessária ao piso de cima.

Esta opção, diferente das anteriores assumidas, é justificada pela concepção de vivências de Dr. El Gato e da Beringela que passa por uma casa capacitada com espaços que permitam o usufruto de actividades lúdicas, a convivência de amigos, ou simplesmente o descanso “refrescado” no Verão. As tradicionais salas-de-estar pela sua formalidade não permitem uma tal liberdade de movimentos, sujidades, e de equipamentos recreativos.

Dessa forma, o objectivo deste salão de festas pretende-se multifuncional e ecléctico, com capacidade de albergar uma diversidade de funções recreativas que vão desde a simples actividade física de manutenção indoor; passando por jogos/actividades multimédia, chegando mesmo à possibilidade de organização de torneios internacionais de Matrecos (Good Garden International Wood Soccer Table Championship).