20120529

AZULEJOS TERRACOTA

Os azulejos em terracota (10 x 10cm) da empresa Cerbran, já se encontram colocados e betumados, em substituição dos antigos azulejos artesanais em estampilha (13 x 13cm) com motivos florais na cor vermelho.

Decidimos apenas revestir com azulejo o essencial, que se resumiu às paredes mais expostas das instalações sanitárias do piso 1 e 2.
Optamos por modelos lisos e cores que se integrassem nos espaços a revestir e que potenciassem visualmente os mosaicos hidráulicos do pavimento, recentemente colocados.

Foi revestida a parede da instalação sanitária do piso 2, com azulejo em terracota vidrado na cor branco cru que harmoniza o movimento provocado pelo pavimento em mosaico hidráulico texturado recuperado.

















Todas as paredes do cubinho que é o espaço da instalação sanitária do piso 1, onde foi instalado o pavimento em mosaico hidráulico preto, foram revestidas com azulejos em terracota lisos vidrados na cor cinza betão, que nos deslumbraram após a sua aplicação.






















Agradecemos ao ladrilhador que conseguiu habilmente alinhar todas as juntas dos pavimentos em mosaico hidráulico com as juntas dos azulejos em terracota das paredes, mesmo com o handicap de se tratar de uma recuperação e por isso nenhum plano de parede/pavimento se encontra a 90º.

“Deus escreve direito por linhas tortas” - provérbio

20120528

ABACATEIRO

“Receita de GUACAMOLE
- 2 abacates maduros;
- ½ colher (chá) de sal;
- ½ tomate cortado em cubinhos;
- 1 malagueta fresca;
- 1 dente de alho picado;
- ¼ de cebola picada.
Cortar os abacates ao meio e retire o caroço. Retirar a polpa com uma colher para uma tigela.
Amassar a polpa com um garfo e acrescentar a cebola, o alho, a pimenta e o tomate, misturando tudo. Prontinho!”

Quando anteriormente me referi à “pré-existência” de 3 árvores no nosso jardim e ao desaparecimento precoce de 2 delas, não estava a ser totalmente preciso. A uma cota de -1 metro debaixo do solo (sob a forma de raízes) e a +2m acima do solo (numa extensa rama) jaz um abacateiro, ou para ser mais preciso 2/5 do abacateiro do nosso vizinho sul. A sua imponência é tal que ocupa grande parte da nossa vista sudoeste e servirá de sombra nos inícios de tarde solarengas de Verão.

Trata-se de uma árvore pouco comum nos jardins do Porto e apesar do meu analfabetismo botânico julgo se tratar de um exemplar de dimensões colossais e que nos transportam rapidamente para um pais tropical de terras férteis e chuvas abundantes. O agradável desta característica prende-se obviamente com a proporcionalidade dos desejados e apetecíveis frutos do abacateiro.

Poderia divagar livremente sobre as diversas propriedades benéficas dos abacates, desde a sua utilização na indústria cosmética até às vitaminas que beneficiam o estado de saúde de quem os ingere em abundancia, passando pelo preço a que os mesmos são vendidos nas nossas bancas frutícolas. Mas não o farei, apenas irei referir ao de leve o bem que sabem numa saladinha de verão, ou num molhe guacamole.

Mas como diz D. Etelvina, não há bela sem senão…
A referida quota de extensa rama de +2/+3/+4 metros acima do solo encontra-se recheada de abacates maduros, que como devem imaginar pensam acima de meio-kilo com o seu imperioso caroço.
Óptimo! diria uns dos meus amigos cozinheiros.
Que grande maçada! direi eu no momento que pretenda descansar uma bela soneca no verdejante relvado que sob ele será plantado.

Após visualizações em loco do fenómeno de queda dos mesmos graças à gravidade e depois de ligeiros cálculos astrofísicos (amandamos um abate ao ar) chegamos a conclusão que a mistura da trajectória da queda livre de um destes exemplares com a mala-pata de um ser vivo se colocar na hora/sitio errado do jardim, fará com que o 112 acorra ao Bonjardim, com a certeza de um traumatismo crânio-encefálico!

Sendo assim as possibilidades de sestas foram postas de lado, mas a travessia desta parte do jardim para o fim do logradouro onde planeamos plantar os nosso tomates-cherry e os pimentos padrón, também incorria em perigos de bombardeamentos naturais. Posto isto e com a prudência que nos é conhecida e relatada em outros posts, decidimos cortar o mal pela raiz.

Não, não me interpretem mal. Antes queria dizer, parar o mal pela raiz… do cabelo (trocadilho para quem os aprecia), ou seja implementar um sistema de capacetes de obra para travessia. Sempre que seja necessário passar “under the advocato” será aconselhável colocar um capacete (tipo, ligar os médios antes do túnel, ou colocar creme solar em dias de nevoeiro, just in case)

Mesmo assim, mesmo que este sistema falhe, e faço questão de o fazer, irei negociar como clausula segurada a morte/incapacidade por queda de frutos para qualquer ocupante/visitante da casa. Portanto amigos nossos não temam! Se algo vos acontecer no jardim poderão se gabar para a eternidade do acidente mais verde quem alguém já teve e quem sabe a vossa família terá dinheiro para ir passar férias num pais tropical de terras férteis e chuvas abundantes!!!

20120524

MOSAICOS HIDRÁULICOS III

Os mosaicos hidráulicos novos comprados no Sr. Zagalo foram finalmente colocados na cozinha (modelo estrela) e instalação sanitária do piso 1 (modelo liso). Seguiu-se o hidrofugante (2 demão) e a betumação das juntas (cor cinza).

Como os trabalhos da obra continuam e continuarão, os mosaicos foram integralmente tapados com cartão, para evitar imundícies.
Enviamos fotos exclusivas do pouco período de tempo que estiveram à vista.





















As cores foram escolhidas por Dr. El Gato e Beringela, surpreendentemente sem qualquer tipo de discussão ou hesitação.
Os mosaicos modelo estrela são pretos e brancos à semelhança dos originais mas com a estrela verde que combinará muito bem com o frigorífico SMEG annis 50 cor verde d’água.



















Os mosaicos da instalação sanitária do piso 1 são do rock, preto rancor.


















Também os mosaicos hidráulicos removidos do Bonjardim foram recuperados e aplicados. Dos mosaicos hidráulicos texturados existentes na instalação sanitária do piso 2 e espaço do depósito de água do sótão, foram selecionados e os melhores exemplares e recolocados na instalação sanitária do piso 2.















Os mosaicos hidráulicos existentes na cozinha foram igualmente selecionados e recolocados na instalação sanitária do piso 0 e arrumos (abaixo da escada exterior do logradouro).



















"… para que um pavimento em mosaico hidráulico dure mais de cem anos, deverá ser limpo com uma esfregona usando uma mistura de água e cera acrílica." – Mestre Lúcio Zagalo

20120516

ELECTRO-CHOQUE

"Um bom esquema vale mais que um longo discurso." – Napoleão  Bonaparte

O maior quebra-cabeças que o Bonjardim nos ofereceu, foi encontrar uma solução para a instalação do sistema eléctrico.

Esse problema baseava-se nas seguintes premissas que teriam de ser acuteladas na obra de recuperação:
1 – Partir do princípio que todos os tectos e pavimentos estavam a ser mantidos/conservados;
2 – Os pavimentos em soalho de madeira não poderiam ser removidos, pois não era possível a sua recolocação devido à sua idade (102 anos) e à sua dimensão (algumas peças com 8.00m de comprimento);
3 – Os rodapés também não são passíveis de remoção, uma vez que aqueles que foram removidos em obra devido ao seu mau estado de conservação provaram que estavam tão agarrados que não sairiam intactos;
4 – O caminho vertical a executar para a passagem da rede eléctrica entre pisos era sempre interrompido quando se cruzava com os rodapés e as sancas do tecto em gesso;
5 – O próprio rasgo nas paredes periféricas era por si só uma preocupação pois para se chegar à profundidade pretendida que permita a passagem dos tubos com electricidade e a colocação de reboco teria que se fazer um corte também nas pedras de granito, provocando grandes vibrações obviamente desaconselhadas;
6 – A passagem vertical pelas paredes de tabique estava fora de questão, pois além de ser impossível rasgar a parede em toda altura devido à sua materialização, estas também não se encontram no mesmo alinhamento.
7 – A passagem dos tubos pelos tectos até ao centro das divisões com o objectivo de alcançar a zona onde se deveria localizar o ponto de luz para a iluminação, demonstra-se uma tarefa só possível em sonhos, uma vez que todos os tectos têm sancas em gesso e o tecto é em fasquio.

Originalmente a casa não tinha sistema eléctrico pois os centros dos tectos onde possivelmente teria estado um lustre apenas tinham uma argola para a suspensão de um candelabro. Acender todos os dias as velas, é algo ficou definido desde início que não pretendemos manter na casa.
Provavelmente, com os olhos na modernidade D. Maria Lídia mandou instalar electricidade da forma mais evoluída de havia. Toda ela pelo exterior das paredes, percorrendo as divisões sossegadamente pousada nos rodapés do Bonjardim.

Quando se iniciou o desenvolvimento de uma proposta para a passagem da rede eléctrica, algumas situações eram dadas como certas:
1 – O quadro localizado no hall de entrada seria o ponto de partida para o espalhamento dos cabos eléctricos;
2 – A distribuição dos cabos teria de ser feita pelo tecto da cave (este a executar em pladur) de forma a chegar a todos os pontos da casa;
3 – Teria de se encontrar quatro ou cinco pontos de subida que permitissem a distribuição dos cabos eléctricos pelos diversos pisos, pois o atravessamento entre divisões era muito difícil, não sendo possível nem pelo pavimento nem pelo tecto;
4 – A passagem dos cabos só era possível pelas paredes periféricas, ou seja pelas paredes de granito, resumindo-se a um pensamento de passagem dos cabos pelo lado direito da casa ou pelo lado esquerdo e passagem pela frente da casa ou pelas traseiras (apesar de não estar solucionada a transição entre pisos).
5 – Passagem de cabos eléctricos pelo tecto, conforme referido, é para esquecer.

Quanto à passagem de electricidade pelos tectos, afiguram-se 2 opções:
Opção A – Tectos falsos em pladur vs Candeeiros no centro do tecto com a passagem dos fios pelo seu interior.
Opção B – Tectos fasquiados e trabalhados em gesso vs Candeeiros no centro do tecto com a passagem dos fios pelo seu exterior.
Informo que optamos pela opção B, iremos trabalhar esta solução o melhor que for possível apesar de não ser uma solução óptima.

No que se refere à rede eléctrica propriamente dita, iniciámos as hostes com a marcação dos interruptores eléctricos onde bem nos apetecia vivendo ainda um sonho domótico (acompanhado da remoção de todos os rodapés que se atravessassem no caminho e a reconstrução das sancas em gesso que tivessem de ser sacrificadas em prol da passagem vertical dos cabos eléctricos vitais para servir todas as nossas necessidades). Erro de principiante.

Confrontados com as problemáticas descritas anteriormente, fomos informados que possivelmente a electricidade teria de circular pelo exterior das paredes, pensando-se até num sistema de tubos de ferro que escondessem os cabos eléctricos nos atravessamentos dos pisos, não importunando os rodapés nem a sancas, algo com uma imagem high-tech.

Dr. El Gato não se conformou com a existência desses tubos verticais em ferro, achando no entanto graça ao que se localizava no seu quarto.

Esse foi portanto o ponto de partida para o maior desafio/dor de cabeça lançado pelo Bonjardim. Encontrar forma de passar a rede eléctrica entre pisos, pelo interior das paredes não sacrificando o existente.
Muitos projectos foram desenhados. Desde prevendo uma maior concentração de passagens verticais na zona da cozinha e wc (onde era possível a sua ascensão livre de barreiras arquitectónicas, até jogando com o desnível de cotas provocado pelo patamar intermédio da escadaria central (onde era possível a execução de um zig zag que não se aproximasse da zona inferior ou superior das lajes).



A solução final apesar de se aproximar bastante da segunda imagem, não foi encontrada em projecto mais sim em obra, com a dedicação do engenheiro responsável pela obra e do electricista, que acabaram por colocar muito mais interruptores e tomadas do que nós ambicionávamos depois das diversas tentativas, que passaram também pela redução ao máximo do estritamente necessário.


20120515

ESQUELETO

"Se você não se pode livrar do esqueleto que está no seu armário, é melhor que o ensine a dançar." - George Bernard Shaw

O Bonjardim foi construído com os materiais e técnicas mais avançadas possíveis para o ano de 1910. A sua estrutura e materiais são na sua essência a génese da construção que se efectuava nos finais do século XIX início do século XX na cidade do Porto.

O granito, recurso natural fundamental na área da construção, e tradicionalmente usado na zona Norte do País por questões geográficas e pelo seu óptimo comportamento como material estruturante na construção devido à sua grande densidade e boa resistência mecânica à compressão, ao desgaste, à acção do fogo e à capacidade de compatibilização com outros materiais, foi muito usado no centro da cidade do Porto, e o Bonjardim não é excepção.
As suas paredes periféricas, as exteriores e as meeiras, foram executadas em alvenaria de grandes blocos granito, em toda a altura da construção, para posteriormente serem revestidas pelo exterior com azulejo e pelo interior com estuque e pintura.

O Porto destaca-se pela grande variedade de cores das suas fachadas, provocada pelo uso do azulejo que surgiu com a industrialização e marcou para sempre a imagem da cidade. O Bonjardim tem na sua fachada principal os clássicos azulejos biselados de 14 x 7cm num lindo e translúcido verde d’água. Os azulejos existentes serão substituídos por azulejos novos de 15 x 7.5cm  biselados e vidrados com afinação da cor para aproximação da cor original.




















Constou-nos que a fachada tardoz era composta por varandas, e que a coluna onde se localizam todas as instalações sanitárias ficava com acesso pelo exterior em todos os pisos, ou seja pela varanda, por uma questão de higiene e salubridade. Anos depois todas as varandas foram fechadas e a solução construtiva optada pela generalidade da população era a colocação de janelas em guilhotina acima da altura do corrimão e o fecho da restante fachada com paredes capeadas de chapa ondulada pelo exterior e taipa de fasquio pelo interior.
Essa imagem da fachada tardoz, apesar acharmos que se trata de uma adaptação, agradou-nos, e mantivemos o mesmo desenho quando partimos para a sua reconstrução, pois a fachada tardoz apresentou-se nos primeiros dias em estado de ruina e teve de ser integralmente construída.




















A estrutura interior da construção é toda executada em madeira, no que se refere às lajes. Devido ao formato tipificado da implantação da casa (17.50 m de comprimento x 6.00 m de largura), as lajes são compostas por vigamento de secção rectangular em madeira de Riga Velha que atravessam transversalmente toda a construção (menor vão) e que entram para o interior das paredes de granito de meação, de forma a distribuir as cargas uniformente ao longo de toda a parede.
Nessas traves assenta superiormente (pavimento) soalho de madeira maciça de pinho que chegam a apresentar 8.00m de comprimento e inferiormente (tectos) em tabique fasquio com estuque pintado.















A cobertura é composta por asnas de madeira de Riga Velha, que é uma madeira muito rija e resistente e que no caso do Bonjardim, devido à inclinação da mesma (43º) permite tornar o sótão um espaço habitavel. Essas asnas que descarregam directamente sobre as paredes periféricas de granito, são a estrutura para a colocação de barrotes e ripado de madeira para assentamento da telha cerâmica Marselha.
A nossa cobertura, conforme descrito no post “4 ÁGUAS” apresenta visualmente a estrutura original no entanto foi potenciada com novos materiais que aumentaram a sua capacidade térmica e de impermeabilização.




















As paredes interiores são em taipa de fasquio ou tabique dependendo se são superfícies estruturais ou não estruturais. A taipa de fasquio, técnica muito usada na época da construção, consiste na execução de uma estrutura composta por tábuas de madeira colocadas na vertical e sobre as quais se prega um segundo plano de tábuas na diagonal, travadas em ambas as faces com um ripado de madeira fino, o fasquiado, com cerca de 2cm de largura, instalado na horizontal, que tem como função contribuir para o travamento da parede e agarrar o reboco com cerca de 1.5cm de espessura, composto por areia fina, cal hidráulica e/ou cal aérea, e acabamento estanhado.
Todas as paredes interiores do piso 1 e 2 serão restauradas com métodos que respeitem a construção existente, serão eliminadas as fissuras do tempo e uniformizadas com argamassa de gesso à base de cal. O acabamento final será tal como o original, estanhado para a superfície ficar num liso aveludado.














Voltando ao fasquio, durante a recuperação do Bonjardim, foi possível a sua visualização nalgumas superfícies, principalmente na cobertura, uma vez que conforme referido, estamos a tentar manter intactas todas as paredes e tectos.
Aprendi com o Flávio, o responsável de obra, já durante o processo de reconstrução da casa, que o fasquiado pode apresentar vários estados de evolução, dependendo da época em que foi aplicado. Inicialmente apresentava uma secção rectangular, evoluindo para a secção trapezoidal com o objectivo de se tornar mais eficiente a segurar as argamassas voltando posteriormente à secção rectangular quando a sua produção foi industrializada.
Bonjardim enquadra-se na época em que o fasquio era produzido artesanalmente, e apresenta a secção trapezoidal, a face mais larga é colocada do lado de fora para melhor cumprir o seu papel de garantir uma melhor aderência do reboco.