20120516

ELECTRO-CHOQUE

"Um bom esquema vale mais que um longo discurso." – Napoleão  Bonaparte

O maior quebra-cabeças que o Bonjardim nos ofereceu, foi encontrar uma solução para a instalação do sistema eléctrico.

Esse problema baseava-se nas seguintes premissas que teriam de ser acuteladas na obra de recuperação:
1 – Partir do princípio que todos os tectos e pavimentos estavam a ser mantidos/conservados;
2 – Os pavimentos em soalho de madeira não poderiam ser removidos, pois não era possível a sua recolocação devido à sua idade (102 anos) e à sua dimensão (algumas peças com 8.00m de comprimento);
3 – Os rodapés também não são passíveis de remoção, uma vez que aqueles que foram removidos em obra devido ao seu mau estado de conservação provaram que estavam tão agarrados que não sairiam intactos;
4 – O caminho vertical a executar para a passagem da rede eléctrica entre pisos era sempre interrompido quando se cruzava com os rodapés e as sancas do tecto em gesso;
5 – O próprio rasgo nas paredes periféricas era por si só uma preocupação pois para se chegar à profundidade pretendida que permita a passagem dos tubos com electricidade e a colocação de reboco teria que se fazer um corte também nas pedras de granito, provocando grandes vibrações obviamente desaconselhadas;
6 – A passagem vertical pelas paredes de tabique estava fora de questão, pois além de ser impossível rasgar a parede em toda altura devido à sua materialização, estas também não se encontram no mesmo alinhamento.
7 – A passagem dos tubos pelos tectos até ao centro das divisões com o objectivo de alcançar a zona onde se deveria localizar o ponto de luz para a iluminação, demonstra-se uma tarefa só possível em sonhos, uma vez que todos os tectos têm sancas em gesso e o tecto é em fasquio.

Originalmente a casa não tinha sistema eléctrico pois os centros dos tectos onde possivelmente teria estado um lustre apenas tinham uma argola para a suspensão de um candelabro. Acender todos os dias as velas, é algo ficou definido desde início que não pretendemos manter na casa.
Provavelmente, com os olhos na modernidade D. Maria Lídia mandou instalar electricidade da forma mais evoluída de havia. Toda ela pelo exterior das paredes, percorrendo as divisões sossegadamente pousada nos rodapés do Bonjardim.

Quando se iniciou o desenvolvimento de uma proposta para a passagem da rede eléctrica, algumas situações eram dadas como certas:
1 – O quadro localizado no hall de entrada seria o ponto de partida para o espalhamento dos cabos eléctricos;
2 – A distribuição dos cabos teria de ser feita pelo tecto da cave (este a executar em pladur) de forma a chegar a todos os pontos da casa;
3 – Teria de se encontrar quatro ou cinco pontos de subida que permitissem a distribuição dos cabos eléctricos pelos diversos pisos, pois o atravessamento entre divisões era muito difícil, não sendo possível nem pelo pavimento nem pelo tecto;
4 – A passagem dos cabos só era possível pelas paredes periféricas, ou seja pelas paredes de granito, resumindo-se a um pensamento de passagem dos cabos pelo lado direito da casa ou pelo lado esquerdo e passagem pela frente da casa ou pelas traseiras (apesar de não estar solucionada a transição entre pisos).
5 – Passagem de cabos eléctricos pelo tecto, conforme referido, é para esquecer.

Quanto à passagem de electricidade pelos tectos, afiguram-se 2 opções:
Opção A – Tectos falsos em pladur vs Candeeiros no centro do tecto com a passagem dos fios pelo seu interior.
Opção B – Tectos fasquiados e trabalhados em gesso vs Candeeiros no centro do tecto com a passagem dos fios pelo seu exterior.
Informo que optamos pela opção B, iremos trabalhar esta solução o melhor que for possível apesar de não ser uma solução óptima.

No que se refere à rede eléctrica propriamente dita, iniciámos as hostes com a marcação dos interruptores eléctricos onde bem nos apetecia vivendo ainda um sonho domótico (acompanhado da remoção de todos os rodapés que se atravessassem no caminho e a reconstrução das sancas em gesso que tivessem de ser sacrificadas em prol da passagem vertical dos cabos eléctricos vitais para servir todas as nossas necessidades). Erro de principiante.

Confrontados com as problemáticas descritas anteriormente, fomos informados que possivelmente a electricidade teria de circular pelo exterior das paredes, pensando-se até num sistema de tubos de ferro que escondessem os cabos eléctricos nos atravessamentos dos pisos, não importunando os rodapés nem a sancas, algo com uma imagem high-tech.

Dr. El Gato não se conformou com a existência desses tubos verticais em ferro, achando no entanto graça ao que se localizava no seu quarto.

Esse foi portanto o ponto de partida para o maior desafio/dor de cabeça lançado pelo Bonjardim. Encontrar forma de passar a rede eléctrica entre pisos, pelo interior das paredes não sacrificando o existente.
Muitos projectos foram desenhados. Desde prevendo uma maior concentração de passagens verticais na zona da cozinha e wc (onde era possível a sua ascensão livre de barreiras arquitectónicas, até jogando com o desnível de cotas provocado pelo patamar intermédio da escadaria central (onde era possível a execução de um zig zag que não se aproximasse da zona inferior ou superior das lajes).



A solução final apesar de se aproximar bastante da segunda imagem, não foi encontrada em projecto mais sim em obra, com a dedicação do engenheiro responsável pela obra e do electricista, que acabaram por colocar muito mais interruptores e tomadas do que nós ambicionávamos depois das diversas tentativas, que passaram também pela redução ao máximo do estritamente necessário.


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