20120213

D.ª MARIA LÍDIA

“ É nas velhas casas, onde parece flutuar ainda a penumbra dourada do passado, que se recebe, mais perdurável e mais viva, a impressão da família e do lar." - Júlio Dantas - Escritor

Depois de visitas anteriores a algumas casas da mesma época, sabíamos que dificilmente poderíamos encontrar uma casa que actualmente preservasse a maioria dos seus elementos habitacionais/arquitectónicos intactos desde a sua construção original. Em casas seculares é natural que as sucessivas gerações tenham ambicionado transformar e adaptar a sua habitação às suas necessidades, de acordo com as ferramentas construtivas e capacidade económica que possuíam.

As últimas décadas (70-80-90-00) foram possivelmente as mais “destruidoras” no tratamento de conservação e adaptação deste tipo de habitações. Assistimos a exemplos de utilização de métodos e materiais que unicamente serviram de “remendos temporais” e que em alguns casos estropearam definitivamente a herança do património.

Dessa forma, rapidamente nos apercebemos que muito mais importante do que a qualidade do imóvel em causa, possivelmente, a história de vivências e a preocupação dos antigos proprietários pelo seu património, eram factores essenciais. No 953 do Bonjardim uma afortunada mescla de situações fez com que o imóvel surgir-se às nossas mãos apenas com adaptações pontuais e intacto na sua estrutura primária, principais materiais e no seu uso habitacional.

Desde o primeiro dia surgiu uma curiosidade sobre a história do imóvel e também concretamente sobre a última vivência humana que nos tinha antecedido (teria sido uma família, um casal, uma pessoa?). Rapidamente nos apercebemos, através do nome da destinatária do correio e das conversas com os vendedores, que a ultima habitante tinha sido uma senhora – D.ª Maria Lídia Veiga dos Santos.

Em conversas mais aprofundadas com os vizinhos ficamos a saber que se tratava de uma senhora que nunca se terá casado, e dada a sua longevidade na Rua do Bonjardim era estimada e acarinhada por todos. Descrita como uma pessoa afável primava por uma apresentação pessoal muito cuidada. Infelizmente com o avançar da idade, adoeceu, tendo falecido não há muito tempo.

Certamente que este conjunto de características e dado se tratar de uma casa alugada, fez com que o imóvel fosse pouco intervencionado (política normal dos senhorios portugueses…). Temos a certeza que D.ª Maria Lídia gostaria de a ter a sua casa em perfeitas condições para os seus chás da 5 e visitas ocasionais, bem como contaria com ajuda de parte da comunidade nas necessidades de manutenção essenciais.

Temos consciência, que somos meramente um episódio habitacional da história da edifício 953 do Bonjardim (passada e futura). Mais importante, ao termos uma pequena noção do que nos procedeu, aumenta a nossa determinação pela preservação e respeito pela memória histórica deste pequeno pedaço no topo do Bonjardim.

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